Histórias de um medidor de horizontes


Vale lembrar que o desejo de captar o mundo visível através da imagem
grafada ou pintada nunca deixou de realizar-se. Nada indica o arrefecimento
do exercício espontâneo dessa capacidade humana: da pintura rupestre aos
grafites urbanos 

as figuras que descreve tem a fugacidade das evocações. A infância retorna
através de objetos alongados (como se vistos por uma criança) em escalas
incompatíveis (o pequeno se torna grande e vice versa) desdobrados (em visão
simultânea das partes), desenhos que representam os componentes de um
play-ground. 

Esse remexer no passado leva o artista a velhos negativos. Essa aproximação
com a fotografia vem da nostalgia de um imaginário que só a fotografia tem o
poder de resgatar e é também a nostalgia de uma representação que a pintura
pede emprestada à fotografia. Curiosamente, quando Kudo transpõe esses
fotogramas para a pintura, prefere mantê-los na escuridão. Fica o mistério
não revelado. Sobre as sombras ele faz inscrições tal como num quadro negro
se desenha a giz, tal como inevitavelmente novas imagens interferem em
lembranças obscuras.

Para quem foi um colorista, essa economia cromática equivale a uma não cor,
o espaço ilimitado dessa composição sugere que essa linha imaginária pode
recuar até o infinito.


Maria Alice Milliet
junho de 2001