IZER CAMPOS Nasceu na cidade de Dores do Turvo - Minas Gerais, 1956
FORMAÇÃO:
Em
1977 cursou um ano de Artes Plásticas na Escola Universitária Guinard, em Belo
Horizonte. Fez sua primeira exposição individual de desenhos em 1988 na
Galeria Theodoro Braga do CENTUR, em Belém. Desde 1990 vive e trabalha no
interior do Estado do Pará, região amazônica, desenvolvendo o desenho, a
pintura e o objeto (em madeira) e, a partir de 1992, a cerâmica. Num processo
de Intercâmbio Cultural, vem realizando cursos, oficinas e pesquisas junto a vários
grupos nativos da Região Norte e Nordeste, mais especificamente nos Estados do
Pará e Piauí.
EXPOSIÇÕES
INDIVIDUAIS:
1988 -
Individual de Desenhos - Galeria Theodoro Braga - CENTUR/Belém. 1994 - Individual Cerâmica - CCBEU/Belém; Individual Cerâmica -
Universidade da Amazônia/UNAMA. 1998 -
Exposição Individual de Cerâmica - Galeria Theodoro Braga - CENTUR/Belém. 1999
- Exposição Individual de Cerâmica - Stuttgart/Alemanha; Exposição
Individual de Cerâmica - Avignon/França.
2000 -
Exposição Individual de Cerâmica - Nuremberg/Alemanha.
EXPOSIÇÕES
COLETIVAS:
1993
-
Coletiva Cerâmica - CCBEU/Belém (Segundo Lugar). 1995
- Coletiva - Salão de Santo André/São Paulo; Coletiva Bibliarte -
Faculdade de Direito - São Bernardo do Campo/São Paulo; Coletiva de Arte
Contemporânea de Belém - Galeria de Arte da UNAMA/Belém. 1996
- Coletiva Cerâmica - Galeria Theodoro Braga - CENTUR/Belém; Coletiva Cerâmica
- Liceu de Artes/Curitiba; II Salão UNAMA de Pequenos Formatos - Galeria da
UNAMA/Belém; Salão de Artes Plásticas - SESC Araxá/Macapá; Coletiva Objetos
de Madeira - Galeria de Arte da UNAMA/Belém; XV Salão Arte Pará/Belém. 1997 - III Salão UNAMA de Pequenos Formatos - Galeria de Arte da
UNAMA/Belém; Exposição Coletiva de Objetos de Madeira - Galeria Theodoro
Braga - CENTUR/Belém; Participação em Workshop e Exposição - St. Dézéry/França;
XVI Salão Arte Pará/Belém. 1998 -
IV Salão UNAMA de Pequenos Formatos - Galeria de Arte da UNAMA/Belém; Exposição
Coletiva da Associação "Ponte Cultura" - Nürnberg/Alemanha; Exposição
Coletiva de Cerâmica - Allés/França; Exposição Coletiva de Cerâmica -
Castelo de Dachau/Alemanha. 1999 -
Exposição Coletiva de Cerâmica Art Galery` - Bonn/Alemanha. 2000 - IV Salão UNAMA de Pequenos Formatos (Prêmio Aquisição) -
Galeria de Arte da UNAMA/Belém; Exposição Coletiva - Uzés/França; Exposição
Coletiva - Nuremberg/Alemanha; Arte Pará Dois Mil/Belém.
2001 -
Exposição "Intercâmbio" - Galeria Theodoro Braga - CENTUR; Exposição
de resultados do Workshop Terra dos Rios (Coordenadora )- Vila do Apeú/Galeria
de Arte da UNAMA.
PREMIAÇÕES:
1993
-
Coletiva Cerâmica - CCBEU/Belém (Segundo Lugar). 2000
- IV Salão UNAMA de Pequenos Formatos (Prêmio Aquisição) - Galeria de
Arte da UNAMA/Belém.
CONTATO:
Caixa
Postal: nº 58 CEP: 68.740-970
Castanhal - Pará - Brasil.
Tel:
055 091 725-1114 E-Mail: remigi@linknet.com.br
por
Luiz Fernando e Mª de Lourdes Carvalho no dia 11 de outubro
de 2001 ,
I-
É isso mesmo vem da vida no
interior, de andar por dentro de córregos, de brincar com barro , de fazer
casinhas de barro, de estar na casa daquelas pessoas que trabalhavam na fazenda
. A Marina era uma delas, eu sempre a acompanhava quando ela ia buscar água na
bica e nós aproveitávamos para trazer tabatinga (barro branco), que havia ali
perto e que servia para passar em seu fogão de barro, nas paredes e no chão de sua casa ,
deixando tudo limpinho. Era como tantas outras, um casa
de barro, com chão e paredes irregulares, mas aconchegante com o calor
da terra, com calor do fogo, com calor das mãos. E alí tantas vezes eu
adormecia... Então, depois que eu comecei a fazer cerâmica, eu me reporto a
tudo isto, marcas das mãos, a irregularidades...
ML-
Por que sua opção em morar na região Amazônica ?
I
- Eu
nunca tinha pensado em vir para cá , mas apareceu a
oportunidade e , intuitivamente , eu decidi , junto com meu companheiro Roberto
(1).
Eu
não sabia bem porque, mas hoje sei que sou parte desse lugar , e esse
lugar é parte de mim .
Nesse lugar nasceram os meus filhos e me aflorou o gosto pela cerâmica e
que talvez desabrochou a minha arte
e por essa terra e pelo povo dessa terra morreu meu esposo europeu com o coração
índio .
I
- Em
minha vida tudo chega por uma força misteriosa.
Na
verdade eu estava procurando desenvolver a arte que pulsava, que na verdade
sempre pulsou dentro de mim . Eu estava fazendo desenhos nessa época, e
procurei um curso de aperfeiçoamento na cidade de Belém; não havia vagas no
curso de desenho, mas me ofereceram a última vaga na oficina de cerâmica , e
eu aceitei.
Foi neste curso de apenas 1 mês na Fundação Curro Velho em Belém, que
eu aprendi a técnica básica de fazer vasos , apartir de rolinhos ... Só que
eu não fiz um vaso, mas uma peça artística;
e apartir daí me identifiquei com a matéria e recebi um grande estímulo
por parte das pessoas, dos amigos, um grande estímulo para continuar. Então
comecei a buscar as minhas próprias técnicas, dependendo da necessidade que eu
sentia de expressão, da
forma .
Dependendo
do que vejo, sinto-as a minha
volta, ou então , dependendo do
estado de espírito, elas podem parecer agredidas ou esterilizadas, muitas vezes
aparecem assim na queima , no fogo mesmo , no momento que a aquela vida está
esterilizada
I
- Além
da argila, já utilizei também sucessões de pedras brutas, e um mineral
brilhante chamado Mica que é muito comum na região onde eu nasci, e isso tem
uma relação com a minha infância, aquela terra brilhante, onde eu pisava
descalça como se caminhasse sobre estrelas, pois
é uma coisa que ainda me fascina, quando eu pegava o sol do meio-dia , a
terra brilhava demais, e entre a escola e nossa casa
caminhava 7 Km, e ía arrancando esses cristais pela terra. Vem destas
memórias este brilho.
I
- Posso
dizer que o meu trabalho é quase livre de influências.
Primeiro
por que não tive muitas informações ; depois porque busco na cerâmica a
minha própria essência ; isso não quer dizer que não aconteça coincidências
e identificações com outros trabalhos em diferentes lugares e épocas. Eu acho
que é isso, eu não me sinto muito ligada a qualquer corrente.
Depois
das viagens e intercâmbios na Alemanha e França, na verdade eu acho que
na linha de trabalho, não mudou; eu simplesmente acho que isso reforçou
ainda mais a minha individualidade.
Na Europa eu vi muitas cerâmicas interessantes, sobretudo com técnicas
precisas, e muitas cerâmicas de alta temperatura. No Brasil também, existem
muitos ceramistas que seguem esse caminho ,que eu respeito e admiro, mas,
é opção minha fazer cerâmica de baixa temperatura, formas simples,
irregulares, tonalidades mínimas, enfim, primitiva, este é o caminho que eu
escolhi com o qual me identifico.
Na
Europa eu percebi que as pessoas em algumas exposições tocavam o trabalho,
queriam tocar e não poucas vezes pessoas me falaram daquilo que elas sentiam,
dessa aproximação com a terra mesmo, muitas pessoas falaram,
apartir do trabalho falaram como se soubessem onde eu moro ; então essa
cerâmica reportou as pessoas à natureza; à simplicidade da natureza, à essa
vida simples, a essa coisa que no fundo eu acho que as pessoas estão
carentes ; dessa coisa natural, desse tocar na terra, desse pisar no chão,
então só reforçou a certeza do meu caminho.
Eu
acho que essa parte de tato das esculturas de alta temperatura, quando ela
vitrifica , fica fria, e já na minha escultura ela mantém o calor da terra,
aquela rugosidade .
Algumas
pessoas questionam a durabilidade e resistência dessas minhas cerâmica de
baixa temperatura, e eu falei: " mas existem cerâmicas tribais de 5.000
anos antes de Cristo, ou mais, pra quê mais resistente que isso? "
Ao
mesmo tempo eu acho que cerâmica é frágil, tem aquela coisa do humano, da
fragilidade, como a vida mesmo,
sabe, você pode ser, não sei, feito de dura matéria, mas de repente, vem o
fim, o fim existe, não existe então essa coisa para eternidade
ML-
Qual é , para você , a importância da Cerâmica
?
I
- A
situação atual é um pouco
difícil , artisticamente pra mim, como por um
lado,
eu estou feliz que a gente esteja conseguindo realizar alguns contatos, nosso
intercâmbio com a Ponte Cultura (4)
, mas, falando de minha produção
com cerâmica , é um momento difícil de ter de lutar pela subsistência ,
mas a questão é o viver da arte nessa realidade e conseguir conciliar
aquilo que eu amo, que é a arte , com o poder fazer isso como trabalho, viver
disso , conciliar o trabalho com outras pessoas menos privilegiadas , no sentido
de poder oferecer um pouco
daquilo que a gente recebeu, e eu penso isso apartir da arte, principalmente da
cerâmica. Então imagine , se já
é complicado, viver, se manter da arte, imagina querer fazer com que acreditem
que isso seja importante, que isso possa dar, levar algo às crianças carentes
ou outras pessoas que tem uma
necessidade imediata de sobrevivência mesmo, de comer, não é?...Então é
esse o conflito que eu vivo nesse momento. É isso, fazer o meu trabalho, viver
dele e poder ajudar com ele outras pessoas.
Esse
intercâmbio, a gente consegue fazer tanto com
pessoas de um mesmo nível
de compreensão sobre cultura e arte , assim como com pessoas que não tiveram
essa oportunidade, que não tem essa informação, que estão carentes de tudo,
mas é isso que nós temos para oferecer...
sobretudo com crianças e adolescentes, que caso eles possam se expressar através da arte, ela proporcionará também
um equilíbrio e discernimento para
que eles, futuramente, possam se tornar profissionais e pessoas estruturadas
psicologicamente, pra enfrentar a vida, trabalho
e tudo . Desenvolver um senso crítico
apartir disto e toda uma visão, consciência ecológica, trabalho coletivo, é
muito importante, acredito, através do trabalho com a cerâmica , mesmo que a
gente trabalhe com diversas técnicas, mas eu acho que apartir da cerâmica
, esse material tão simples , consigamos
moldar verdadeiros homens .
Meu
projeto futuro é continuar o meu trabalho, manter esses contatos fazendo intercâmbio
com outros artista daqui do Brasil, e
de outros lugares e desenvolver este trabalho junto a comunidade e as crianças
da Vila de Apeú.
Notas
da entrevista :
Nota (1) -
Roberto Remigi :
companheiro de Izer , italiano de nascimento ,
morreu
de malária contraída em seu trabalho com as comunidades
indígenas
, em fev/2000.
decorativas
.
Nota
(3) - Cabas : Tipo de marimbondo do Norte do Brasil.
Brasil/Alemanha.
A artista plástica Izer Campos vive com seus três filhos na sua fazenda nas
vizinhanças de Castanhal, cerca de uma hora de carro da cidade de Belém do Pará. A sua arte é singular tanto em concepção como confecção. Trabalhos em
argila, suas formas suaves e diversificadas se inspiram na multiplicidade de cápsulas, envólucros, frutos e sementes que a floresta tropical produz. Mas
não se trata de simples reproduções das formas naturais, antes, elaborações
que resultam de uma apropriação reflexiva, de uma busca do essencial que muitas vezes não se encontra na unidade, mas na multiplicidade. Um exemplo
disso é uma instalação de uma série de formas globulares e oblongos que em conjunto podem ser interpretados como representação da mãe Terra, de cujos
seios a vida nasce e se mantem. No que diz respeito ao acabamento, os constructos de Izer são igualmente notáveis em sua rusticidade consciente,
seus apliques, detalhes inigualáveis.
De fora, a vida de Izer parece um sonho. Morando em sua fazenda à margem da floresta, parece que Izer tem tudo para ser feliz. A vegetacão exuberante, a
água, a vida ao ar livre, as grandes árvores. Tudo isso é maravilhoso. Porém
como mulher sozinha (o marido faleceu há poucos anos atrás), Izer tem muitas dificuldades e tem que batalhar para ser respeitada, conseguir se impor e, o
que talvez seja o mais difícil, com o seu labor manter a família e a fazenda inteira.
Inga Thierme